Sacrificios
-Eras capaz de morrer por mim?
Daniel olhou para Luísa com estranheza. Não estava habituado a ouvir aquele tipo de perguntas vindas da boca dela. Normalmente queria saber se ele achava que ela estava a ficar gorda, ou se se tinha lembrado de trancar a porta. Era esse o tipo de relação que tinham, sem grandes dramas. Virou-se para ela e olhou-a nos olhos. Ela estava a falar a sério.
-Mas que raio de pergunta é essa, Luísa?
Ela desviou o olhar, embaraçada, e murmurou:
-Não é nada…
Daniel virou-se de volta para o seu lado da cama, de sobrolho franzido.
-Tive a ler um livro… Dizia que quando tás disposto a morrer por outra pessoa, é a prova de que a amas mesmo...
Demorou a adormecer, arrependido por não ter dado uma resposta na altura certa.
Acordou tarde no dia seguinte, ainda a pensar naquela conversa. Tacteou a cama à procura de Luísa, mas só encontrou um espaço vazio. Já devia ter saído para o trabalho, o que não era de admirar, visto que o despertador já devia estar a tocar há umas boas duas horas. Levantou-se, preguiçoso, e arrastou-se para a casa de banho. Colado no espelho estava um recado de Luísa. “Volto tarde, não esperes por mim pra jantar. Beijos.” Devia estar amuada por causa da cena da noite anterior. Daniel resignou-se à perspectiva de um par de dias de silêncios incómodos, visto que afinal de contas, a culpa era dele. Tomou banho, vestiu-se, e saiu para trabalhar, sempre com aquela pergunta na cabeça.
Luísa passou o dia a remoer a conversa da noite anterior. Nunca devia ter feito aquela pergunta. Conhecia demasiado bem Daniel para poder esperar uma resposta convincente. Na verdade, não tinha dúvidas de que ele a amava. Era uma certeza que vinha sempre confortá-la quando ele a olhava nos olhos. Nas conversas do dia-a-dia e até mesmo nos silêncios, ela percebia que o carinho que ele não punha em palavras estava sempre presente. Mesmo assim, aquela pergunta saíra-lhe da boca, sem que ela o pudesse evitar. Pedir-lhe-ia desculpa quando chegasse a casa. Não valia a pena usar o silêncio para passar por cima daquela conversa.
Ocorrera-lhe enquanto estava sentado na paragem do autocarro – ia esperar Luísa com um jantar à luz das velas. Não estava habituado a preparar aquele tipo de surpresas românticas, mas sabia bem que Luísa as merecia. Passou pelo supermercado, trouxe tudo aquilo que lhe pareceu necessário para que a noite corresse na perfeição, comprou flores, alugou até um daqueles filmes românticos de que ela tanto gostava (lamechices, como ele próprio gostava de lhes chamar). Tratou de tudo com um cuidado de que nem se sabia possuidor. Queria que a noite fosse perfeita. Quando acabou os preparativos, tinha no forno uma pasta italiana com um ar apetitoso. Na mesa ardiam duas velas que emprestavam à sala toda uma luminosidade que convidava a fazer as pazes, e na aparelhagem estava já preparado para tocar o CD preferido de Luísa. Satisfeito com o resultado do seu esforço, Daniel sentou-se no sofá, adivinhando a cara da sua mulher quando se deparasse com a surpresa.
Saiu tarde do escritório, e ainda conseguiu demorar bastante tempo a chegar a casa, graças à chuvada que se abateu sobre si no momento em que pôs o pé na rua. Quando o autocarro finalmente chegou à paragem em frente a sua casa, Luísa ia tão cansada que nem reparou no homem que desceu as escadas do autocarro atrás de si. As passadas que seguiam as suas passaram-lhe despercebidas, e nem sequer notou, quando começou a subir as escadas, que tinha deixado a porta do prédio por fechar. Só ao abrir a porta de casa é que finalmente percebeu que tinha alguém atrás de si. Não se virou, não lhe pareceu muito sensato, visto que tinha um objecto de metal encostado à nuca. Uma pistola. Um sussurro roubou-lhe todo o sangue da cara.
-Vamos, não pares agora, amor. Vamos lá a entrar pra dentro de casa.
A tremer, foi pondo um pé à frente do outro, quase tropeçando de medo. O homem que a seguia, com a arma ainda encostada a si, ia-se insinuando, ora encostando em si os quadris, ora passando-lhe com a mão pelo corpo. Os arrepios que ia sentindo enquanto percorreu o corredor até à sala assemelhavam-se vivamente a pura dor física.
Quando cruzou a porta da sala, o que viu deixou-a quase tão espantada como ao homem que tinha atrás de si. A mesa estava posta, com duas velas acesas no centro, a ladear um pequeno vaso com uma rosa. Ao fundo ouviu a sua música preferida.
Ao ouvir a chave na porta, Daniel correu para a cozinha. Pelo caminho ligou a aparelhagem e tirou o avental que tinha estado a usar para disfarçar a sua inabilidade como chefe de cozinha. Quando voltou com a travessa na mão encontrou Luísa à entrada da sala, com um tipo atrás dela a apontar-lhe uma pistola. Não pareceram reparar nele a aproximar-se por trás no corredor. Quando chegou suficientemente perto, Daniel levantou a travessa e atirou-a com toda a força à cabeça do filho da puta que estava a ameaçar Luísa. O cair dos estilhaços anunciou a queda do homem pelo chão, com um enorme corte na cabeça, coberto por um misto de massa e sangue.
Daniel, ainda a tentar perceber o que se tinha passado, passou por cima dele, e abraçou Luísa. Ficaram assim, agarrados, durante um instante que se desenrolou pelo silêncio.
“Clic”
O homem levantava-se à velocidade que as tonturas provocadas pela travessa lhe permitiam, mantendo no entanto a arma apontada a Daniel.
- Senta-te naquela cadeira. – Ordenou calmamente.
Reticente, com o olhar dividido entre o cano da arma e os olhos de Luísa, Daniel foi recuando até se sentar na cadeira, no meio da sala.
Luísa seguiu as instruções do homem, e atou Daniel à cadeira. Era difícil argumentar contra uma arma. Quando terminou, agachada ao lado de Daniel, olhou a medo para o tipo, que por aquela altura a observava com um sorriso maldoso a pairar nos lábios.
-Despe-te – cuspiu ele entre dentes.
Ficou petrificada. A resposta veio do outro lado.
-Nem penses filho da puta! Luísa, tá quieta, não faças nada! Ele não te vai fazer mal!
“Bang”. O tiro acertou no joelho de Daniel. Preso na cadeira, contorceu-se, soltando um gemido de dor.
-Não, Luísa, não te vou fazer mal nenhum, antes pelo contrário. Mas se não fizeres o que eu te digo, faço-lhe mal é a ele. – Disse com um sorriso, mirando Daniel com a arma.
Luísa olhou para Daniel. As lágrimas rolavam-lhe pela cara abaixo. Nunca o tinha visto chorar.
-Não faças nada Luísa! Deixa-o matar-me, por favor! Não o deixes tocar-te!
Lentamente, Luísa pôs-se em pé. Começou a desabotoar a camisa.
Quando o homem saiu, deixou atrás de si um rasto de dor. Abraçada a Daniel, Luísa chorou também. Naquela noite, Luísa morreu por dentro. Por Daniel.
7 Comentários:
Clavo,
conseguiste uma cadência porreira a escrita mas o enredo é estranho. Quando chegamos à arma a pate anterior torna-se demasiada palha. Se estavas a tentar aumentar o drama pelo contexto psicológico acho que conseguias arranjar um contexto melhor.
Em termos de tom o registo também muda muito e quase parece que colaste duas estórias de livros diferentes com os mesmos nomes nos personagens.
Já que me dei ao trabalho de ver o teu blog achei que pelo menos podia deixar um review.
Por Anónimo, Às 11:24
Pois eu gostei muito...Zé, acho mesmo que tens o dom da palavra...:)
Por Anónimo, Às 23:25
nao retiro virgula!;)
Por Koala, Às 13:24
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