Um mais um igual a três

terça-feira, abril 25, 2006

Do you think being miserable will ever make you happy? It won't. It will olnly make you miserable.

- Achas mesmo que isso é maneira de lidar com a situação?
- Acho. Afinal de contas é só uma questão de perspectiva. Tu achas que ele é um cabrão. Eu acho que ele é um bom pai e um bom marido. Pra mim isso chega.
Nem mesmo ela acreditava nas próprias palavras. Não existia nenhuma questão de perspectiva. Margarida sabia que estava errada, que o seu marido não a amava, que se mantinha no casamento pela comida, cama e roupa lavada. E ainda assim, não conseguia dizer isto a mais ninguém.
- Eu sei que tens medo de ficar sozinha, Margarida, mas isto não é maneira de viver. Por amor de Deus, ele tentou saltar-me pra cima. O tipo não tem escrúpulos! Sabes lá com quantas mulheres ele anda enrolado enquanto lhe fazes o jantar?
Patrícia tinha razão. Se era capaz de se fazer assim à sua melhor amiga, era mais que provável que andasse por aí a pular de cama em cama. Se calhar se tivesse sido Patrícia a casar com ele, nunca teria de passar por aquela situação. Mas Patrícia era bonita, era forte, não tinha tido dois filhos, tinha uma carreira de sucesso, enfim, teria tudo para o poder pôr na rua sem grandes problemas. Ela não. Dependia dele. Sempre dependera, desde o início.
- E pra onde é que eu vou depois? O que é que eu faço? Sabes perfeitamente que ele não vai querer ficar com as crianças. Patrícia, eu sou uma secretária, nunca vou passar disso. Adoro os meus filhos, mas sei que é impossível tomar conta deles sozinha. Não tenho dinheiro pra isso. Nem agora. Nem nunca.
A conversa acabava sempre aqui, o argumento do dinheiro punha sempre Patrícia em “cheque”.
- Vai pra tribunal, se for preciso, fica-lhe com o dinheiro. Eu pago o advogado, se for preciso. Sirvo de testemunha. Se for preciso contratamos um detective pra o seguir. Não há juiz neste país que não te dê razão. Só tens de dar o primeiro passo. Não consigo mais ver-te a sofrer assim.
Prometeu que ia pensar nisso. Patrícia acabou por ir para casa, pouco depois. Eram três da manhã, e Henrique ainda não tinha chegado.
Foi para a cozinha. Ainda tinha coisas para fazer. Ao tirar a roupa da máquina de lavar reparou no colarinho da camisa dele. Marcas de batom. Certamente não eram suas. Deixara de se maquilhar quando Sebastião nascera. Levou-a para a bancada da cozinha. As suas lágrimas não pareciam ajudar o batom a desaparecer. Enquanto esfregava, pensava em Henrique. Naqueles primeiros tempos de casado, em que ele chegava todos os dias a casa, trazendo tantas vezes flores. Naquelas noites em que sentia que ele a amava.
Quanto tempo demoraria Henrique a aperceber-se de que ainda a amava?

3 Comentários:

  • E eis uma pergunta retórica! Situações, com o seu respeito, fodidas, pelas quais passa demasiada gente... eis aqui o blog expiatório (existindo mesmo um de registo) dos males da sociedade;))
    ***

    Por Blogger Koala, Às 21:43  

  • ena ena..mais um texto em que tiro o chapeu!por vezes só nos apercebemos de quem gostamos depois de perdemos a pessoa...que estupidez..porque será?

    Por Anonymous Anónimo, Às 03:04  

  • ja ouvi essa historia.. nao me é nada estranha. deves ter sido tu que me contaste nossos passeios ao kekodromo.sera?

    Por Anonymous Anónimo, Às 21:47  

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